quinta-feira, 19 de março de 2009

Efeméride nº 19 Educação e ponto final

Achei essa entrevista muito boa. Eu sou meio suspeita pra falar do Cristovam, se eu pudesse votar quando ele se candidatou, meu voto seria sim para ele.O país tem a cara de seu governo,estreitando mais, de seu comandante, e eu não vejo a minha imagem refletida no 'espelho Lula'. Tudo bem, ele tem um jeitão humilde, do povo,sim ele batalhou muito na vida,tem uma campanha boa,mas nítidamente não prezou pela educação. poderíamos encontrar várias justificativas para isso,mas, uma rápida e atual comparação nos faz perceber que quando se quer é bem provável que se consiga. Obama,tem uma origem tão humilde quanto,mas possuí um diploma de curso superior (conquistado com esforço intelectual próprioe e não é em qualquer lugar!).

Eu não defendo nenhuma visão política radicalmente,não sou militante e talvez você nunca me verá carregando alguma bandeira de algum partido(também não tenho quase nada contra o Lula),mas sou inabalável quando digo: " O Brasil é socialmente desorganizado e não adianta criar medidas paliativas para amenizar a situação, porque a raiz do problema é a falta de educação."

Ai, odeio repetir o que todo mundo já disse e o que você sabe decorado,mas tive que desabafar!

UnB AGÊNCIA - O déficit de professores no Brasil é estimado em 250 mil. É possível zerar esse déficit?
CRISTOVAM BUARQUE -
O número de 250 mil é o oficial, mas se consideramos o nível de despreparo de muitos professores, podemos dizer seguramente que o déficit total é de 1 milhão de professores. Só mudaremos esse quadro valorizando os professores com melhores salários, melhores condições de trabalho e oferecendo cursos de aperfeiçoamento, entre outras medidas.

UnB AGÊNCIA - No Brasil, um juiz federal tem salário de R$ 24.500, enquanto o professor da rede pública recebe em média R$ 830. Nos Estados Unidos, um juiz federal tem salário de US$ 13.500, enquanto a média salarial do professor de escola pública é de US$ 3.200. Ou seja, no Brasil, um juiz recebe salário equivalente ao de 30 professores. Nos Estados Unidos, o salário de um juiz pagaria 4 professores. O que você acha dessa relação?
CRISTOVAM -
É vergonhosa. Pior do que isso. É burra, injusta e vergonhosa. Acaba com o futuro do país. Como faltam bons professores, os alunos abandonam a escola, depois não conseguem emprego e acabam caindo na criminalidade. No fim, serão julgados por esses juízes. Mas a longo prazo não há Justiça que dê conta. Se essa situação for mantida, somos um país sem futuro. Estou impressionado com esses números, com essa distorção.

UnB AGÊNCIA - O presidente dos EUA, Barack Obama, elegeu a educação como uma prioridade de Estado. O Brasil não pode fazer o mesmo?
CRISTOVAM -
Eu tenho dito há 10 anos, já escrevi um livro sobre o tema: o Brasil precisa de uma segunda abolição, que só virá pela educação. Os Estados Unidos estão adotando um keynesianismo social, para gerar conhecimento, emprego e renda, pensando no futuro. A opção por investir em educação deixa isso bem claro. No Brasil, o governo prefere o keynesianismo tradicional, voltado para a produção e circulação de dinheiro.

UnB AGÊNCIA - Como o Brasil poderia começar pelo keynesianismo social em meio à crise?
CRISTOVAM -
Precisamos de programas como o bolsa escola, criado na década de 1990 (quando Cristovam Buarque era governador do Distrito Federal). Em vez disso, o governo socorre a indústria automobilística, reduzindo seus impostos. Seria melhor investir na indústria e ao mesmo tempo garantir melhoria na qualidade de vida da população. Por exemplo, o governo poderia comprar veículos para suprir os hospitais com ambulâncias, para aumentar a frota da polícia, para garantir o transporte escolar aos estudantes, tratores e caminhões para a agricultura. O governo Lula ainda não percebeu a importância de assumir esses compromissos.

UnB AGÊNCIA - O Programa Bolsa Família não se enquadra neste modelo?
CRISTOVAM -
Não. O bolsa família se enquadra como keynesianismo tradicional e assistencial. O bolsa escola era diferente, pois condicionava o benefício à manutenção da criança na escola. Combatia a evasão. A diferença nos nomes já diz tudo. O atual governo tirou o programa do Ministério da Educação e o transferiu para o MDS (Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome).

UnB AGÊNCIA - Ou seja, desvinculou o programa da obrigatoriedade de manter crianças e adolescentes na escola?
CRISTOVAM -
Não desvinculou porque isso está na lei. Mas a realidade está distante do que diz a lei. No MEC, a família poderia perder o benefício caso descumprisse a exigência, e seria encaminhada para outro programa. Mas no MDS não dá pra fazer isso. O ministro não vai cortar a bolsa de quem sobrevive dela. Como programa de combate à fome, ele cumpre seu papel.

UnB AGÊNCIA - A primeira reunião entre os presidentes Lula e Obama está previsto para 17 de março. Haverá mais dois encontros até o começo de abril. São boas oportunidades para incluir o tema educação na pauta de relação dos dois países?
CRISTOVAM -
Só se Obama tomar a iniciativa, porque o presidente Lula deverá falar de outros assuntos. Provavelmente eles conversarão sobre a situação de Cuba, da Venezuela, sobre protecionismo.

UnB AGÊNCIA - Barack Obama tem insistido no combate à evasão escolar...
CRISTOVAM -
O que o Obama está querendo é implantar nos Estados Unidos uma espécie de bolsa escola, criando incentivos para manter o jovem na sala de aula. Por enquanto, sem dar dinheiro às famílias, mas ele vai implantar um Plano Marshall para a educação.

UnB AGÊNCIA - O projeto brasileiro do bolsa escola pode servir de modelo para os EUA?
CRISTOVAM -
Pode, perfeitamente. O governo Obama é mais moderno e mais comprometido socialmente que o governo Lula.

UnB AGÊNCIA - O jornalista do New York Times, Larry Rohter, diz em seu livro que Lula e Bush mantinham uma boa relação porque ambos têm personalidade parecida. Segundo Rohter, os dois mostram não ter curiosidade intelectual. Já Obama tem apreço pelo conhecimento. Como deverá ser a relação Lula-Obama?
CRISTOVAM -
Embora a origem social e ideológica de Lula e Obama sejam próximas, as relações políticas e pessoais não serão tão próximas assim. O Obama sabe que o capital do futuro é o conhecimento, mas o Lula ainda acha que o capital é a máquina. O presidente do Brasil é do tempo do operário, não do operador. Vinte anos atrás, para ser garçom não era necessário nem ser alfabetizado. Hoje, os garçons usam palm e outros aparelhos eletrônicos. O mundo é digital, é o mundo do botão, do clique.

UnB AGÊNCIA - Como você avalia o investimento maciço do governo brasileiro nas escolas técnicas?
CRISTOVAM -
É um equívoco. Antes de investir nas escolas técnicas, é preciso oferecer uma boa educação fundamental. Não haverá bons técnicos se as pessoas não tiverem acesso a uma boa formação básica. O governo investe nas escolas técnicas e universidades porque essas instituições dão mais visibilidade. O Lula é um gênio da política, sabe o que toca os eleitores. As eleições ocorrem a cada quatro anos, exigem pressa, medidas imediatistas. Melhorar a educação básica pode levar 20 anos. Fica difícil conseguir votos assim.

UnB AGÊNCIA - Então a educação básica sempre ficará em segundo plano?
CRISTOVAM -
Só um estadista pode levantar uma bandeira de longo prazo e mesmo assim conseguir votos para se eleger.

UnB AGÊNCIA - Obama se elegeu e sempre tocou no assunto. Podemos dizer que ele é um estadista? E Lula?
CRISTOVAM - Ainda não podemos dizer que o Obama é um estadista. O governo dele ainda está no começo. Lula é um grande político, mas seu discurso é imediatista, fala sobre o presente. Além disso, ele segmenta o público. Fala para a mãe do bolsa família, para o estudante do Prouni, para o banqueiro, para a montadora, mas não fala para todo o Brasil. Não é um estadista.http://www.secom.unb.br/entrevistas/entrevista.php?id=70

Ps:. "Deixa,deixa,deixa eu dizer o que penso dessa vida,preciso demais desabafar."

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